sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Reflexoes 16 /Falando para as paredes


REFLEXÕES 16 / FALANDO PARA AS PAREDES

 Atenção: Aquilo que se fala, não é mesmo que é entendido.

As vezes tenho essa estranha sensação quando me deparo com alguns interlocutores, que não entendem aquilo que estou falando. Não sei se é por distração, desinteresse ou deficiência cognitiva.

Tento ser o mais claro, simples e didático possível ao fazer um pedido, expor uma ideia, um projeto ou manifestar um sentimento; mesmo assim nem sempre sou compreendido, como se fosse necessário desenhar ou explicar melhor.

Claro que a comunicação efetiva depende da capacidade do interlocutor de entender a mensagem que será transmitida. Assim se está falando com uma criança é uma coisa; num auditório técnico, numa assembleia, numa sala de aula são outros quinhentos. Para cada um particular deve se usar uma linguagem que seja acessível a todos, diferentemente de querer a agradar a todos.

Claro que como portador de um vocabulário mais amplo, as vezes me escapa naturalmente uma palavra mais difícil e erudita ou eventualmente técnica obrigatória. Mas para ser mais bem compreendido, não costumo falar por metáforas, símbolos ou ironias, para não complicar, mas procurando exemplos e analogias que podem ilustrar melhor a ideia ou situação.

Vejamos algumas situações curiosas onde isso ocorre, frequentemente.

1. - Falando com um prefeito para explicar alguns projetos urbanos elaborados para seu município, expliquei separadamente as soluções apresentadas para alguns problemas ligados a urbanização de praças, praias e outros de equipamentos como bibliotecas, creches etc. Todos eles acompanhados de desenhos e as justificativas necessárias.

O prefeito ouviu, com aquela cara de paisagem, e disse que o problema maior do município era de asfalto, acrescentando que era isso que ele ia fazer. Não discordei, mas percebi que o diálogo já começava atravessado. Você fala A e ele está ligado em B. Parece que falamos em idiomas diferentes.

Mesmo assim ponderei que esse investimento iria piorar a questão das enchentes na cidade, pois ia aumentar sua impermeabilidade. Não se deu por vencido. Disse que já tinha financiamento e era isso que ia fazer.

Resultado: começou a asfaltar, acabou a verba, deixou o serviço inacabado, piorando os aspectos que queria melhorar e os outros decorrentes.

Quanto as minhas propostas, ficou de analisar. Isso nunca aconteceu.
Até as paredes do gabinete, ficaram decepcionadas.

2.   - Numa situação de sala de aula as dúvidas sempre são benvindas; mas uma vez esclarecidas, deveriam ser sanadas; mas não é bem assim que acontece. Constata-se na prova que não foram bem entendidas, pois as notas baixas comprovam a não compreensão.

Ou em outras questões mais complexas, como analisar um projeto que apresenta falhas básicas, orientando para as suas correções, percebe-se na avaliação final que eles não foram corrigidos, por falta de entendimento.Aqui as paredes estão carecas de presenciar esses fatos todo ano letivo.

3.  - Num relacionamento amoroso o diálogo é sempre mais difícil para expressar os sentimentos gerados desse convívio; as palavras nem sempre são o melhor veículo para essa manifestação. A banalização das palavras como amor, querida não são suficientes. Gestos e atitudes precisam complementar o diálogo, para a necessária compreensão e harmonia.
E pior é quando a conversa precisa ser direta e racional, para resolver um problema simples, mas que fica ofuscada pelo envolvimento do lado sentimental ou outro interesse oculto envolvidos. Raramente há espaço para a objetividade. Quer ver:

Onde você quer sentar-se? Não, ali não. É melhor do outro lado.
O que você vai comer? Quero lasanha. Mas não viemos numa churrascaria?
Vamos por aqui? Não, quero ir para o outro lado.
Quanto tempo ainda tenho que esperar? Quando terminar de me arrumar te aviso. Depois de horas: Estou bem?
Pegou as chaves? Não está na bolsa. Acho que perdi.

Aqui as paredes são testemunhas das brigas e também de outros prazeres noturnos.

4.   -  Falando com surdos, velhos ou novos. É aquele sufoco E preciso repetir, gritar e gesticular para ser entendido.
- Você quer ir para a Barra Funda?
- Aquela mulher é imunda?
- Não foi isso que quis dizer.
- O que isso tem a ver?

E por aí vai esse autêntico diálogo de surdos, que nem as paredes entendem.

5.   -  Num bar falando sobre futebol imagina como é a conversa entre vários torcedores de times diferentes, bebendo cerveja e comendo amendoim ou torresmo. Claro que ninguém se entende. Mas o objetivo não é este. E desopilar, para chegar mais leve em casa e não brigar com a mulher. Cada um fala mais alto que outro, como se isso fosse necessário para convencer o outro.
- O Messi é o melhor de todos. -Para mim é o Cristiano Ronaldo. -Como a seleção de 70 não tem igual. -O Neymar é um pipoqueiro. -Flamengo é o maior. - Aquele juiz é um ladrão. Aquela bandeirinha é gostosa.
E por aí vai, até pedirem a saideira.

Como se vê são monólogos, dirigidos para as paredes, como se fora  um ente etéreo e confidente.

6.   - Na mesa familiar italiana no almoço de domingo
 Família reunida: o nono, a nona na cozinha, os filhos, noras, genros, netos e agregados. A comida é o que mais importa. Deve ser farta. Tem sempre um antepasto, uma massa, carne, maionese, salada, muito pão, pudim ou sorvete de sobremesa, vinho, cerveja e refrigerantes.

O mais velho fica na cabeceira, podendo ser o nono ou o pai; as crianças ficam numa mesa à parte e o cachorro esperando a sobra.

Todos falam com as mãos, juntos, bem alto e de boca cheia, recheados de palavrões. O assunto não tem nenhuma importância.

- O que comeram ontem; - O que vão comer a noite. - A melhor pizzaria é a Bela Napoli. - O parente que está doente. -Os corneteiros não deixam o Parmera em paz. - Saudade da Sicília, Calábria. - Aquele não passa deste ano. -Quem não está presente é um defichenti, malcalsone, farabuto.

No caso, o quadro ou a foto na parede é que testemunha tudo, em silencio, as vezes rindo.

7.    - Numa Roda de amigos sobre política
Quando isso ainda era possível, pois agora a radicalização tomou conta

- Essa reforma de previdência veio para tirar os direitos dos trabalhadores.
- Mas ela vai acertar as contas do governo.
- Querem enfiar a capitalização, modelo Chile, goela abaixo da nação.
- O STF é um covil de ladrões. Tudo vendido
- PT nunca mais. Bolsonaro é o mito.

Como se vê nesse caso não há diálogo, mas sim posições antagônicas, radicais, arraigadas, sem nenhum argumento para convencer a parte contrária, considerada inimiga, que precisa ser abatida.
Não há objetivos de se estabelecer consensos para resolver impasses e avançar em soluções democráticas.

Cada um fala para si, como para as paredes, que sentem vergonha.

8.   -  Conversa com os netos

Aí o feitiço vira contra o feiticeiro. É você que não entende o que eles falam, pois eles se expressam noutro idioma, que é antropofágico com as palavras, tem gíria própria, além de ser virtual.
Gíria jovem sempre houve. O problema agora é que você é a vítima.

- E ae vô. Q q rola vô. Tô na balada, mano. -Mtt saúde pra vc. -Pra vc tbm vô. -E aí bebê, vem de Zap? -  Ele é meu crush (No meu tempo crush era um refri amarelo) - Eu sou top.- A festa tá bombando. - Não flopou.

Será que eles voltam a falar português, mais tarde?

Conclusão geral:  Às vezes tenho dúvidas daquele ditado que diz que conversando é que se entende.

Edison Eloy de Souza / janeiro 2020

Reflexxoes 15 /A Euforia de fim de ano


REFLEXÕES 15 / A EUFORIA DE FIM DE ANO

Desculpem o tom melancólico e meio do contra, em remar contra a maré, mas essa época de fim de ano me deixa triste e deprimido, desde pequeno.

Parece que o mundo vai acabar. Todos ficam eufóricos atrás das compras, do amigo secreto, das confraternizações, das vãs promessas, das despedidas e falsas juras de amor. Parece que a alegria com hora marcada, vira uma obrigação para todos. Não se aceitam dissidentes.

A vontade é de correr para aproveitar os últimos dias do ano, as férias dos filhos e o recesso do trabalho para viajar à praia ou ao campo, não sem antes enfrentar os congestionamentos, os preços altos e a muvuca. É desesperador.

Todo Natal e Ano Novo é sempre igual; baixa um espírito magico da concórdia, paz, fraternidade, como se Papai Noel realmente existisse e contemplasse todos os nossos desejos, suspendendo todos os males.

Na virada do novo se renovam os desejos de melhoras, as esperanças adquirem ares proféticos de felicidade, de saúde e prosperidade, como a espantar as agruras, frustrações e desgraças do ano que passou.

Claro que este é um desejo de amor e paz de todos, mas que não  consegue ofuscar as mazelas humanas ligadas à fome, à miséria, às doenças, à desigualdade, à violência, às guerras, à imigração forçada, ao ataque ao meio ambiente, que já deveriam ser banidas de uma civilização que chegou ao século 21.

As soluções para esses males parecem sonhos de uma noite de verão, que não se realizam. Parece que são temas que não nos afetam e que buscamos nos alienar, até por sobrevivência mental, mas que me incomodam profundamente.

Respeito os sentimentos genuínos, daqueles que tem fé, que tem o verdadeiro espírito cristão, que sempre pratica o bem, são solidários, altruístas, fraternos, humildes o ano inteiro. Que ainda acreditam em milagres divinos. Mas, me parece que esse homem é uma espécie em extinção na sociedade moderna.

Assim, a hipocrisia toma conta e aflora com força nesta época do ano.

Os desejos de Boas Festas e Feliz Ano Novo saem automaticamente da boca para fora, sem os sentimentos correspondentes. A caridade é exercida só nessa época. A exibição material, construída em modicas prestações é feita em detrimento da elevação espiritual
.
A ostentação luxuosa e farta das mesas e decorações são indecorosas e constrangedoras, face aqueles mais necessitados que não tem o que comer. A exibição dos sorrisos nas fotos nem sempre revelam a felicidade interior. Os presentes importados revelam cada vez mais uma dependência e alienação cultural prejudicial às nossas origens e tradições.
Todo o ressentimento, indiferença, desinteresse e até ódio e rancor, em relação ao próximo, ficam recolhidos aguardando nova oportunidade.

 Passada a festa, vem a ressaca e cai a ficha, pois quase nada mudou, além do calendário.

A situação pessoal e familiar permanece igual, as contas continuam a cair agora aumentadas, o emprego está escasso, a escola dos filhos difícil de manter, sem plano de saúde, etc., afetadas pelas decisões políticas e econômicas daqueles pusilânimes que ocupam os poderes, mas não são capazes de resolver os problemas a favor de todos.

A situação geral, as questões estruturais do país continuam em aberto, o retrocesso cultural e de costumes é uma realidade. Em relação as questões globais, acho que está faltando lideranças, salvo talvez o papa, capazes de enfrentar os problemas que se apresentam. É preciso mais democracia, paz, igualdade, oportunidades e fraternidade.

Para não dizer que não falei de flores, reconheço que há avanços em vários campos científicos e tecnológicos que, frutos da globalização, tem beneficiado mais gente do que antes, mas que infelizmente eles são controlados por uma minoria que detém o capital, o conhecimento e as informações internacionais.

 Apesar de tudo isso, o mundo não acaba e a vida segue igual, como antes.

Um sincero e merecido Feliz ano novo para todos nós.

Edison Eloy de Souza / dezembro 2019


quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Sobre a (I)mortalidade


REFLEXÕES 14 / SOBRE A (I)MORTALIDADE

A idade vai aumentando, os parentes próximos vão nos deixando, os amigos vão morrendo e você vai ficando só, aguardando a sua vez.

Tenho experimentado essa sensação de abandono cada vez mais forte, mais apertada, a cada parente, amigo ou conhecido que se vai, a cada figura importante das artes, da cultura, da ciência, mesmo distante do nosso convívio, que admiramos, e que nos deixa.

Vamos ficando cada vez mais órfãos e mais carentes, como se fossemos nos desprendendo do nosso tempo.

Ficamos também bastante tristes quando não são devidamente respeitadas ou reconhecidas, figuras importantes, de todas as áreas humanas, que deram sua vida para iluminar nosso conhecimento e já estão indo.

Nesse cenário, nosso universo de relações e amizades, construído ao longo da vida, vai ficando cada vez menor e mais limitado, quase um pequeno quintal.  O horizonte aberto que era rico e imenso, vai se empobrecendo e se estreitando, como se quisesse nos isolar e engolir.

As perdas e despedidas, sempre doloridas, vão se tornando mais frequentes, menos espaçadas, deixando vazios e lembranças irrecuperáveis. Nunca estamos preparados para elas. Lidamos mal com isso.

Elas são mais sentidas agora quando estamos mais velhos, onde o excesso de tempo livre acaba nos levando a uma espécie de somatização, onde há muito espaço para pensar e pouco para agir.

Fomos criados e formados para sermos uteis e produtivos o tempo todo, a fim de cumprirmos nossos compromissos pessoais e sociais ligados à sobrevivência, a ascensão, ao reconhecimento e ao sucesso, sem descanso.

Estamos pouco preparados para o fim dessa longa fase dita produtiva, dinâmica, quando ela é substituída por outra onde a ocupação do tempo ocioso, que é quase total, se impõe de forma inexorável.

A sensação de inutilidade que isso acompanha destrói nossas forças, corrói nosso pensamento e dificulta esse difícil enfrentamento. Parece que você não serve para mais nada e para mais ninguém. E você luta para se manter vivo e não quer ser um estorvo para ninguém.

Claro que é preciso aceitar que não somos imortais, que a vida continua depois de nós, que se renova nos nossos descendentes, filhos, netos e inúmeras outras crianças que nascem; mas é preciso muita maturidade e discernimento para absorver esse processo, com naturalidade e equilíbrio.

O desapego aos bens materiais, ao patrimônio construído, também vai se instalando e se soma a esse processo de retirada. Essas coisas perdem seu valor e vão ficando pra trás.

A finitude da nossa existência física é uma condição inexorável, difícil de aceitar. Ninguém quer morrer. Lutamos pela nossa vida até o fim, que veio como uma dádiva ao nascermos.

Nos apegamos a ela com todo o vigor. Não é justificável, ético ou lícito tentarmos interromper esse percurso natural, num momento de fraqueza qualquer.

A ciência trabalha para prolongar nossa vida biológica, a fim de nos garantir uma longevidade com saúde e qualidade. Sem falar nas pesquisas com embriões e células tronco, ela já transplanta órgãos artificiais ou aproveita outros de uma pessoa com morte encefálica para salvar a vida de outros. Isso é maravilhoso.

Chegaremos a criar embriões humanos? Chegar à imortalidade? A que preço e para que? Os espíritos puros e as religiões torcem o nariz para estas hipóteses.

Num outro aspecto diferente e mais abrangente, já está comprovado que tratamos mal e de forma violenta a mãe natureza responsável pela nossa morada, pondo em risco nossa própria existência e longevidade de forma sustentável. É preciso cuidado com isso.

As religiões tradicionais garantem que só a alma, o espírito têm a imortalidade; os espiritas pregam a reencarnação; outras, mais pragmáticas, defendem o aqui e agora, cobrando um alto dízimo para essa garantia.

Enquanto isso, nós, considerados simples mortais e com livre arbítrio, vamos tocando a nossa sina, recheados de dúvidas existenciais, como fugazes passageiros dessa maravilhosa nave terra.

Edison Eloy de Souza / dezembro 2019



Anonimo na Multidao


REFLEXÕES 13 – ANONIMO NA MULTIDÃO

E um privilégio desfrutar do anonimato ao caminhar na multidão.

É muito gostoso caminhar vendo as pessoas passarem, sejam homens, mulheres, crianças, com seus rostos, roupas, calçados, bolsas, mochilas e todos os complementos possíveis. Se misturando e se confundindo com ela.

Claro que aqui não me refiro uma multidão em protesto, seguindo um bloco carnavalesco, ou um réveillon na paulista, descontrolada e ensandecida, que assustam e estão noutro contexto.

É um deleite ter a liberdade de observar com atenção seus os traços, rostos de tipos diversos, como morenos, brancos, negros, jovens, lisos, crispados, maquiados, ver seus olhos distintos ora rasgados, arregalados, meio fechados (como os meus), azuis, verdes, castanhos e tantas outras características humanas interessantes. Trocar olhares fortuitos, fugazes, esperançosos ou comprometedores e muito bom.

Nunca gostei de andar em bando, em patota, prefiro fazer como o condor que voa sozinho, pois aí você perde a capacidade de observar, de se deslumbrar, de olhar os detalhes e minucias das pessoas e coisas pelo caminho. O olhar solitário é muito mais observador.

O que mais me impressiona nesse cenário urbano é o movimento das pessoas, esse vai e vem contínuo, de gente apressada ou nem tanto, atravessando a rua na faixa de pedestres ou fora dela, parecendo sempre com um destino a cumprir, como se encenassem um rico balé visual.

Também não dá para passar batido as mazelas que estão no caminho como os vendedores ambulantes, os artistas de rua, os homens-propaganda, os moradores de rua, os desocupados, que fazem parte da cena urbana.

Quanta diversidade de tipos, tamanhos, sexos, condições e figuras exóticas, graças a nossa miscigenação, as condições sociais, além da criatividade que criam um rico mosaico único e digno de registro.

Eu, por certo tradicionalismo e preconceito, confesso que ainda me incomodo com certos modismos, como andar com roupa rasgada, o excesso de tatuagens, cabelos coloridos, o celular acima de tudo, os bonés e camisetas de grife. Acho que a origem desses novos hábitos não é busca de informalidade, conforto ou despojamento, mas sim uma espécie de macaquice cultural importada.

Esse rico universo humano desfila num cenário dinâmico de edifícios, arvores, vias, veículos e toda sorte de componentes urbanos que completam esse frenético caleidoscópio de imagens e sons.

Por outro lado, tem gente que além de ver o que há ao redor, adora ser vista e admirada; elas estão mais para narcisos do que para a discrição. Ai a observação descontraída fica prejudicada, pelo interesse em ser notada como prioridade.

Se você é uma figura pública, um artista ou político, um alto executivo, certamente não terá essa oportunidade de se misturar ao povo, ou por aversão, medo, segurança ou distanciamento. Mas certamente estará sempre procurando um holofote por perto.

Tem ainda outras pessoas que estão preocupadas com as aparências dos outros, isto é, se são altas ou baixas, como estão vestidas, que penteados e sapatos usam, e ficam comentando umas com as outras; são as fofoqueiras de plantão que perdem o melhor e o espontâneo da observação desinteressada.

Enfim, é uma pena que nem todos tem o prazer e a oportunidade de flanar sem destino, como eu, despreocupado e aberto para perceber e apreciar o ocorre ao seu redor.
Da minha parte continuo um flaneur inveterado.

Edison Eloy de Souza/ dezembro 2019

Três Tempos


REFLEXÕES 15 / TRÊS TEMPOS – Antes, durante e depois

Como num filme, o desenrolar das nossas vidas corre basicamente por 3 etapas temporais distintas: as passadas, já conhecidas e definidas, as presentes, que estão em andamento e se desenrolando agora e outras futuras, cujos prognósticos são desconhecidos, apesar do final previsível.

Creio que há um certo desequilíbrio e assimetria entre esses 3 momentos da nossa vida.
Enquanto o passado é o tempo vivido, como um baú fechado, o presente está transcorrendo neste momento e o futuro é aquele que se vislumbra, vivemos sensações diversas e de intensidades diferentes em cada um desses momentos.

Assim. o PASSADO é um reservatório cheio, um livro já escrito, como um deposito repleto de acontecimentos, história, lembranças e reminiscências, o presente representa o estado atual momentâneo se desenrolando e o futuro é sempre aquela incógnita temporal imponderável.

É no passado que estão guardadas, na nossa memória, todas as imagens e registros importantes vividos, de forma nítida ou enevoada, desde o nosso nascimento, crescimento, formação, processo de amadurecimento e envelhecimento, contando as alegrias e tristezas, conquistas e perdas, amizades e amores havidos e todo o conhecimento acumulado.

Quantos acontecimentos, emoções que se desenrolaram, desde o início que viemos à luz até o dia de ontem, onde os planos e realizações que ocuparam nosso   tempo ficaram marcados para sempre.

As festas, os aniversários, os almoços de domingo,  as uniões e relacionamentos, o primeiro beijo,  a formatura, a luta pelo trabalho, a primeira vista do mar, o primeiro salário,  os períodos políticos difíceis, a casa nova, o primeiro carro, o nascimento dos filhos e dos netos, as perdas e lutos familiares e dos amigos próximos, os sustos das fraturas e  doenças, os desencantos e todos os demais eventos que ficaram indelevelmente fixados na nossa memória.

É no passado que está nosso registro histórico, as descobertas, o aprendizado, a construção e a consolidação do conhecimento, do nosso patrimônio, onde os erros nos ensinaram o caminho do aperfeiçoamento.

Tem gente que não consegue se desligar do passado, onde tudo era bom, segundo elas. Carregam um peso considerável, que atrapalha a continuidade da vida de forma saudável.

Já o presente, o HOJE, que está em movimento, representa sempre um desafio de adaptação ao momento, às mudanças de condições, aos novos tempos, às limitações físicas e mentais, ao avanço da tecnologia, à velocidade na circulação de dados e informações, a virtualidade das relações, aos novos paradigmas.

Ele pode correr de forma anódina, um tanto insipida e indelével, parecendo ocupar o tempo lenta e inconsequente para uns, como frenético para outros. Depende da fase da vida em que nos encontramos.

No nosso caso, que estamos fora do mercado produtivo, o hoje corre mais lentamente, como numa velocidade analógica, artesanal, mais presencial e sem compromissos formais, numa última tentativa para usufruir dos prazeres e obrigações mínimas que ainda restam.

Diferentemente de outros, principalmente a nova geração, que acredita que o importante é o VIVER AQUI E AGORA, de uma forma egoística e virtual, ignorando o conhecimento histórico do passado e como se o futuro não existisse ou não importasse.

Essa geração se distingue da nossa não só pela velocidade na forma de viver, e até de falar mais rápido, fruto da ansiedade, da revolução tecnológica, dos algoritmos, como também por seus valores morais e sociais diferentes, de como encarar a perspectiva de vida, o sentido da propriedade, o acúmulo de patrimônio material e tantos outros.

Sem fazer juízo de valor, é uma geração individualista, pragmática, do cultivo ao corpo, impaciente, consumista, que quer o sucesso e riqueza a todo custo.

Quem ignora o passado corre o risco de repetir seus erros ou sem planejamento estratégico não se chega a lugar algum, foram os ensinamentos que os antigos nos martelavam sempre.

Claro que não sabemos qual dos caminhos é o melhor, mais consequente e exitoso; tendo consciência que falhamos em vários pontos na nossa trajetória; desejamos que os que nos sucedem tenham melhor resultado. Não só para si, mas também do ponto de vista social.

Quanto ao nosso FUTURO em particular, ele se apresenta num horizonte de tempo mais curto e imediato, face aos mais de dois terços de caminho percorrido; não sei se acrescentará mais muitas novidades, apesar de estarmos abertos a elas.

Em compensação o da humanidade, se me permitem a presunção de especular, muitos desafios de toda ordem estão postos; sejam em relação aos avanços tecnológicos, a degradação do meio ambiente, a superação das desigualdades, as mudanças de comportamento etc.

Eu da minha parte, estou satisfeito com o meu ciclo temporal de vida; mas ficaria muito mais feliz, num futuro não muito distante, se houvesse paz e harmonia entre as pessoas e nações, se fosse eliminada a fome, a miséria as desigualdades, as iniquidades, a intolerância, o racismo, e todas as mazelas que ainda atacam a humanidade em pleno século 21

Como vêm, sou um sonhador inveterado.  Ainda bem. Viva os nossos 3 tempos.

Edison Eloy de Souza / janeiro 2020


O que diferenciam as cidades


O QUE DIFERENCIAM AS CIDADES?
Como identificar a cidade e o lugar onde nós estamos?
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Num post anterior abordamos a homogeneidade e uniformização das cidades, fruto da globalização. Agora vamos nos debruçar naquilo que as diferenciam.

Como descobrir ou identificar o que há de próprio e característico nelas, além da homogeneização sofridas pelas metrópoles e cidades globais?

Como se libertar da mesmice urbana, das mesmas soluções e de comportamento humano padronizadas, contrarias à individualidade e a criatividade?

Se dependesse só dos interesses das grandes corporações e capitais internacionais, provavelmente as cidades seriam todas iguais, para serem mais eficientes, econômicas, eficazes, controladas e dominadas como num estado orwelliano moderno.

Em quais aspectos gerais e sinais particulares elas podem se diferenciar, apesar dessa opressão pela homogeneidade, pasteurização e controle? Quais são suas características próprias, que agradam seus habitantes e atraem os turistas?

Acreditamos que inevitavelmente essas diferenças passam por inúmeras características próprias que as tornam únicas, não só nos detalhes, mas na sua essência.
Fatores como seu nível de desenvolvimento científico, econômico e cultural, sua infraestrutura, a sua geografia, seu traçado físico estrutural, a forma de exercer sua mobilidade, o seu dinamismo ou tranquilidade, a sensação de segurança ao caminhar ou se locomover;

 As suas áreas verdes, os seus monumentos históricos, o seu clima, a sua cultura, a sua gastronomia, a sua limpeza, o seu cheiro, (sim, cada cidade tem um próprio) os seus edifícios icônicos, o tipo físico dos seus habitantes, o seu idioma falado e tantos outros particulares são decisivos nessa diferenciação.


Claro que algumas construções icônicas, alguns edifícios especiais e certos predicados naturais ou acidentes geográficos têm um peso significativo na identificação dessas cidades; mas essas não são suas únicas marcas. Há um sem número de outros fatores que contribuem para sua identificação, a influência que elas exercem e a paixão por essas cidades.

Paris não é só a Torre Eiffel e o rio Sena. Londres não só o Parlamento Britânico e o Rio Tamisa. Nova York não é só a estátua da Liberdade e o Central Parque? Roma não é só o Coliseu e o Vaticano. O Cairo não é só suas pirâmides ou os souks. Veneza não é só a Praça São Marcos e os seus canais. Amsterdam não é dó seus canais e bicicletas.

Claro que todos esses edifícios e sítios contribuem para a imagem dessas cidades, e as vezes se confundem com elas de forma reduzida. Mas elas têm muito mais a oferecer.

Felizmente as cidades desenvolvidas como estas conseguem romper essa tentativa de homogeneização globalizada, através das suas geografias privilegiadas, da preservação de seus monumentos construídos, da sua constante renovação, das suas atrações culturais, gastronômicas, da criatividade dos seus habitantes e dirigentes.

Independente das suas mazelas sociais e políticas, pois todas cidades têm as suas, umas mais outras menos, ligadas a desigualdade, a imigração, a xenofobia, a falta de infraestrutura, poluição, mobilidade, sustentabilidade, elas acabam se destacando em algum aspecto de qualidade, civilidade ou  exotismo.


Como não se encantar com a oferta cultural de cidades como Nova York, Paris, São Paulo, Madrid, Lisboa, Florença, Veneza, Atenas, Londres, Ouro Preto,
As belezas naturais do Rio de Janeiro, Machu Pichu, Fox do Iguaçu, Veneza, São Francisco, Chicago, Parati, os glaciares da Patagônia, Lençóis Maranhenses e tantas outras maravilhosas.

Pelo seu traçado Urbanístico original como Brasília, Barcelona, Paris, que acarretam conformações urbanas diferenciadas das geometrias modulares convencionais quadriculadas.

Há cidades, inclusive, que constroem ou recuperam áreas degradadas através de edifícios icônicos, como forma de alavanca-las econômica e culturalmente elevando sua autoestima , como fizeram Seul com seu rio Cheonggyecheon,  Nova York com a High Line, Buenos Aires com Puerto Madero, Bilbao com o Museu Gugheiheim, Medellín e Bogotá com o plano de Bibliotecas Públicas, Rio de Janeiro com  Porto Maravilha, são exemplos exitosos nesse sentido.

Se acrescentarmos as ofertas e iguarias gastronômicas a ampliação é quase infinita, entre a maioria das cidades sempre há um destaque: as italianas com as suas massas e vinhos, as tapas espanholas, os doces árabes e portugueses, as carnes uruguaias, argentinas e gaúchas, as baguetes e pâtisserie francesas, o acarajé baiano e tantas outras que dão água na boca.

A esses fatores materiais é fundamental destacar o elemento humano, aquele que as constrói e mantém e que completa essa diferenciação de maneira indelével. Não falo só dos seus traços físicos diferenciados, apesar de hoje já muito miscigenados.

Como separar a Itália de seus habitantes na forma falar alto, das expressões e de gesticular para se expressar; como não regatear num mercado árabe? Como não se encantar com a educação do povo japonês? Como não ficar esperto para não se enganado num taxi ou num comercio na maioria das cidades turísticas? Como recusar um brinde de vodka de um russo? Um cafezinho brasileiro?

Como se vê, é possível romper com aquelas amarras da globalização que tentam homogeneizar em empobrecer as cidades e seus habitantes, com soluções que revelam inteligência, criatividade. e opções políticas acertadas.

VIVA A DIFERENÇA.  


Colecionando Eufemismos


COLECIONANDO EUFEMISMOS

Usados como malabarismos linguísticos, figuras de linguagem, politicamente correto ou clara hipocrisia.

- Excludente de ilicitude (Licença para matar)
- Foi embora antes do combinado; partiu desta para melhor; abotoou o paletó ( morrreu)
- Ela é de cor. (em vez de preta) prática de racismo
- O governo vai fazer um reajuste (e não aumento)
- Ele está na melhor idade (e não velho)
- Algumas pessoas são desprovidas de inteligência. (burro)
- Apropriação indébita do bem público (Corrupção, roubo)
- Corrupção ativa e passiva (roubo)
- Agravo de instrumento. (Recurso interposto)
- Política de cotas (reparação social tardia)
- Política de gênero (proteção às mulheres)
- Fake News – (notícias falsas)
- Trânsito em julgado (=impunidade por recursos infinitos)
- Ilicitude – (ação culpável, crime)
- Trabalho forçado – (Escravidão)
- Método de dissuasão – (Tortura)
- Pessoa com necessidades especiais – (deficiente físico)
- Sem taxas de juros – (falsa)
- Faltou com a verdade – (mentiu)
- Ela está naqueles dias – (menstruada)
- Convidado a se retirar – (mandado embora)
- Produtora de biografias orais não autorizadas – (fofoqueira)
- Mulher da vida – (prostituta)
- Pessoa em situação de rua – (desabrigado, abandonado)
- Consumidor de substâncias ilícitas – (drogado)
- Portador de drogas(traficante)
- Propaganda enganosa – (mentira)

Das Doenças


DAS DOENÇAS (Satisfação aos queridos amigos)

Para elas não há domingos, feriados, Natal ou Ano Novo. Aparecem sorrateiramente, atingindo a todos nós e permanecem quando menos se esperam, obrigando-nos a tratá-las, com sofrimento, diminuindo o ritmo de atividade, a fim de aumentar a longevidade com saúde.

Mesmo com cuidados periódicos, surge uma anomalia do nada, uma ou mais células fora de controle, se instalando como enfermidade no nosso maravilhoso corpo.

Mesmo sendo um texto pessoal, ao publicá-lo, espero ser útil para muita gente.

Novamente estou envolvido com novo problema de saúde, agora com a detecção de um câncer na próstata. Está bem que é um problema recorrente inevitável da idade, mas que quando nos acomete, exige cuidado e atenção, pois pode ter consequências e sequelas complicadas.

O estigma em relação à própria palavra câncer e a doença em si, já diminuiu muito graças as campanhas públicas de prevenção e ao tratamento que evoluiu bastante, pela grande incidência desse tipo de câncer em homens e de mama nas mulheres.

Das alternativas apresentadas pelos urologistas, cirurgia ou radioterapia, ficou definida a segunda, pois a primeira aumentaria o risco pela idade (sempre ela).

Os médicos e os amigos que já passaram por isso procuram me tranquilizar, mas sempre é um tratamento que causa apreensão, desconforto e leva tempo. Em torno de 6 meses, se tudo correr bem.

Está previsto seu início para agora em dezembro com a aplicação de injeção para diminuir a testosterona, destinada a dar combate inicial as células cancerosas, dar maior eficácia à radioterapia e ainda diminuir o volume da próstata.

A outra injeção está prevista para marco/2020 após as sessões de radioterapia.

Como consequências ou sequelas da injeção sentirei cansaço, calor, diminuição ou perda da libido. Parece que ela aumenta nosso lado feminino.

A radioterapia está prevista em 38 sessões diárias de 2ª. a 6ª. feira, com pausas nos fins de semana, a começar em janeiro.

Felizmente não preciso de quimioterapia, pois os exames de cintilografia e tomografia não revelaram metástase.

As chances de cura são superiores a 90%, segundo as estatísticas, dependendo do caso e do paciente. Estou otimista, já que confio na Prevent Senior, meu convenio, em São Paulo, que utiliza os melhores profissionais e equipamentos e instalações modernas, seguindo os protocolos do Ministério da Saúde.

Não sei como seria se ainda tivesse em São Vicente e sem plano de saúde.

Situação posta, luta a ser enfrentada. Vamos que vamos. Obrigado pelo apoio.