REFLEXÕES 13 – ANONIMO NA
MULTIDÃO
E um privilégio desfrutar do
anonimato ao caminhar na multidão.
É muito gostoso caminhar vendo
as pessoas passarem, sejam homens, mulheres, crianças, com seus rostos, roupas,
calçados, bolsas, mochilas e todos os complementos possíveis. Se misturando e
se confundindo com ela.
Claro que aqui não me refiro
uma multidão em protesto, seguindo um bloco carnavalesco, ou um réveillon na
paulista, descontrolada e ensandecida, que assustam e estão noutro contexto.
É um deleite ter a liberdade
de observar com atenção seus os traços, rostos de tipos diversos, como morenos,
brancos, negros, jovens, lisos, crispados, maquiados, ver seus olhos distintos ora
rasgados, arregalados, meio fechados (como os meus), azuis, verdes, castanhos e
tantas outras características humanas interessantes. Trocar olhares fortuitos, fugazes,
esperançosos ou comprometedores e muito bom.
Nunca gostei de andar em bando,
em patota, prefiro fazer como o condor que voa sozinho, pois aí você perde a
capacidade de observar, de se deslumbrar, de olhar os detalhes e minucias das
pessoas e coisas pelo caminho. O olhar solitário é muito mais observador.
O que mais me impressiona
nesse cenário urbano é o movimento das pessoas, esse vai e vem contínuo, de
gente apressada ou nem tanto, atravessando a rua na faixa de pedestres ou fora
dela, parecendo sempre com um destino a cumprir, como se encenassem um rico balé
visual.
Também não dá para passar
batido as mazelas que estão no caminho como os vendedores ambulantes, os
artistas de rua, os homens-propaganda, os moradores de rua, os desocupados, que
fazem parte da cena urbana.
Quanta diversidade de tipos,
tamanhos, sexos, condições e figuras exóticas, graças a nossa miscigenação, as
condições sociais, além da criatividade que criam um rico mosaico único e digno
de registro.
Eu, por certo tradicionalismo
e preconceito, confesso que ainda me incomodo com certos modismos, como andar
com roupa rasgada, o excesso de tatuagens, cabelos coloridos, o celular acima
de tudo, os bonés e camisetas de grife. Acho que a origem desses novos hábitos não
é busca de informalidade, conforto ou despojamento, mas sim uma espécie de macaquice
cultural importada.
Esse rico universo humano desfila
num cenário dinâmico de edifícios, arvores, vias, veículos e toda sorte de componentes
urbanos que completam esse frenético caleidoscópio de imagens e sons.
Por outro lado, tem gente que além
de ver o que há ao redor, adora ser vista e admirada; elas estão mais para
narcisos do que para a discrição. Ai a observação descontraída fica prejudicada,
pelo interesse em ser notada como prioridade.
Se você é uma figura pública,
um artista ou político, um alto executivo, certamente não terá essa
oportunidade de se misturar ao povo, ou por aversão, medo, segurança ou distanciamento.
Mas certamente estará sempre procurando um holofote por perto.
Tem ainda outras pessoas que estão
preocupadas com as aparências dos outros, isto é, se são altas ou baixas, como estão
vestidas, que penteados e sapatos usam, e ficam comentando umas com as outras;
são as fofoqueiras de plantão que perdem o melhor e o espontâneo da observação desinteressada.
Enfim, é uma pena que nem
todos tem o prazer e a oportunidade de flanar sem destino, como eu, despreocupado
e aberto para perceber e apreciar o ocorre ao seu redor.
Da minha parte continuo um
flaneur inveterado.
Edison Eloy de Souza/ dezembro
2019
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