REFLEXÕES 15 / A EUFORIA DE
FIM DE ANO
Desculpem o tom melancólico e meio
do contra, em remar contra a maré, mas essa época de fim de ano me deixa triste
e deprimido, desde pequeno.
Parece que o mundo vai acabar.
Todos ficam eufóricos atrás das compras, do amigo secreto, das
confraternizações, das vãs promessas, das despedidas e falsas juras de amor. Parece
que a alegria com hora marcada, vira uma obrigação para todos. Não se aceitam
dissidentes.
A vontade é de correr para
aproveitar os últimos dias do ano, as férias dos filhos e o recesso do trabalho
para viajar à praia ou ao campo, não sem antes enfrentar os congestionamentos,
os preços altos e a muvuca. É desesperador.
Todo Natal e Ano Novo é sempre
igual; baixa um espírito magico da concórdia, paz, fraternidade, como se Papai Noel
realmente existisse e contemplasse todos os nossos desejos, suspendendo todos
os males.
Na virada do novo se renovam os
desejos de melhoras, as esperanças adquirem ares proféticos de felicidade, de
saúde e prosperidade, como a espantar as agruras, frustrações e desgraças do
ano que passou.
Claro que este é um desejo de
amor e paz de todos, mas que não consegue
ofuscar as mazelas humanas ligadas à fome, à miséria, às doenças, à
desigualdade, à violência, às guerras, à imigração forçada, ao ataque ao meio
ambiente, que já deveriam ser banidas de uma civilização que chegou ao século
21.
As soluções para esses males parecem
sonhos de uma noite de verão, que não se realizam. Parece que são temas que não
nos afetam e que buscamos nos alienar, até por sobrevivência mental, mas que me
incomodam profundamente.
Respeito os sentimentos
genuínos, daqueles que tem fé, que tem o verdadeiro espírito cristão, que
sempre pratica o bem, são solidários, altruístas, fraternos, humildes o ano
inteiro. Que ainda acreditam em milagres divinos. Mas, me parece que esse homem
é uma espécie em extinção na sociedade moderna.
Assim, a hipocrisia
toma conta e aflora com força nesta época do ano.
Os desejos de Boas Festas e
Feliz Ano Novo saem automaticamente da boca para fora, sem os sentimentos
correspondentes. A caridade é exercida só nessa época. A exibição material, construída
em modicas prestações é feita em detrimento da elevação espiritual.
A ostentação luxuosa e farta das
mesas e decorações são indecorosas e constrangedoras, face aqueles mais necessitados
que não tem o que comer. A exibição dos sorrisos nas fotos nem sempre revelam a
felicidade interior. Os presentes importados revelam cada vez mais uma dependência
e alienação cultural prejudicial às nossas origens e tradições.
Todo o ressentimento, indiferença,
desinteresse e até ódio e rancor, em relação ao próximo, ficam recolhidos
aguardando nova oportunidade.
Passada a festa, vem a ressaca e cai a ficha, pois
quase nada mudou, além do calendário.
A situação pessoal e familiar permanece igual,
as contas continuam a cair agora aumentadas, o emprego está escasso, a escola
dos filhos difícil de manter, sem plano de saúde, etc., afetadas pelas decisões
políticas e econômicas daqueles pusilânimes que ocupam os poderes, mas não são capazes
de resolver os problemas a favor de todos.
A situação geral, as questões
estruturais do país continuam em aberto, o retrocesso cultural e de costumes é
uma realidade. Em relação as questões globais, acho que está faltando lideranças,
salvo talvez o papa, capazes de enfrentar os problemas que se apresentam. É
preciso mais democracia, paz, igualdade, oportunidades e fraternidade.
Para não dizer que não falei
de flores, reconheço que há avanços em vários campos científicos e tecnológicos
que, frutos da globalização, tem beneficiado mais gente do que antes, mas que
infelizmente eles são controlados por uma minoria que detém o capital, o
conhecimento e as informações internacionais.
Apesar de tudo isso, o mundo não acaba e a
vida segue igual, como antes.
Um sincero e merecido Feliz
ano novo para todos nós.
Edison Eloy de Souza / dezembro
2019
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