quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Euforia de fim de ano


REFLEXÕES 15 / A EUFORIA DE FIM DE ANO

Desculpem o tom melancólico e meio do contra, em remar contra a maré, mas essa época de fim de ano me deixa triste e deprimido, desde pequeno.

Parece que o mundo vai acabar. Todos ficam eufóricos atrás das compras, do amigo secreto, das confraternizações, das vãs promessas, das despedidas e falsas juras de amor. Parece que a alegria com hora marcada, vira uma obrigação para todos. Não se aceitam dissidentes.

A vontade é de correr para aproveitar os últimos dias do ano, as férias dos filhos e o recesso do trabalho para viajar à praia ou ao campo, não sem antes enfrentar os congestionamentos, os preços altos e a muvuca. É desesperador.

Todo Natal e Ano Novo é sempre igual; baixa um espírito magico da concórdia, paz, fraternidade, como se Papai Noel realmente existisse e contemplasse todos os nossos desejos, suspendendo todos os males.

Na virada do novo se renovam os desejos de melhoras, as esperanças adquirem ares proféticos de felicidade, de saúde e prosperidade, como a espantar as agruras, frustrações e desgraças do ano que passou.

Claro que este é um desejo de amor e paz de todos, mas que não  consegue ofuscar as mazelas humanas ligadas à fome, à miséria, às doenças, à desigualdade, à violência, às guerras, à imigração forçada, ao ataque ao meio ambiente, que já deveriam ser banidas de uma civilização que chegou ao século 21.

As soluções para esses males parecem sonhos de uma noite de verão, que não se realizam. Parece que são temas que não nos afetam e que buscamos nos alienar, até por sobrevivência mental, mas que me incomodam profundamente.

Respeito os sentimentos genuínos, daqueles que tem fé, que tem o verdadeiro espírito cristão, que sempre pratica o bem, são solidários, altruístas, fraternos, humildes o ano inteiro. Que ainda acreditam em milagres divinos. Mas, me parece que esse homem é uma espécie em extinção na sociedade moderna.

Assim, a hipocrisia toma conta e aflora com força nesta época do ano.
Os desejos de Boas Festas e Feliz Ano Novo saem automaticamente da boca para fora, sem os sentimentos correspondentes. A caridade é exercida só nessa época. A exibição material, construída em modicas prestações é feita em detrimento da elevação espiritual.

A ostentação luxuosa e farta das mesas e decorações são indecorosas e constrangedoras, face aqueles mais necessitados que não tem o que comer. A exibição dos sorrisos nas fotos nem sempre revelam a felicidade interior. Os presentes importados revelam cada vez mais uma dependência e alienação cultural prejudicial às nossas origens e tradições.

Todo o ressentimento, indiferença, desinteresse e até ódio e rancor, em relação ao próximo, ficam recolhidos aguardando nova oportunidade.

 Passada a festa, vem a ressaca e cai a ficha, pois quase nada mudou, além do calendário.

A situação pessoal e familiar permanece igual, as contas continuam a cair agora aumentadas, o emprego está escasso, a escola dos filhos difícil de manter, sem plano de saúde, etc., afetadas pelas decisões políticas e econômicas daqueles pusilânimes que ocupam os poderes, mas não são capazes de resolver os problemas a favor de todos.

A situação geral, as questões estruturais do país continuam em aberto, o retrocesso cultural e de costumes é uma realidade. Em relação as questões globais, acho que está faltando lideranças, salvo talvez o papa, capazes de enfrentar os problemas que se apresentam. É preciso mais democracia, paz, igualdade, oportunidades e fraternidade.

Para não dizer que não falei de flores, reconheço que há avanços em vários campos científicos e tecnológicos que, frutos da globalização, tem beneficiado mais gente do que antes, mas que infelizmente eles são controlados por uma minoria que detém o capital, o conhecimento e as informações internacionais.

Apesar de tudo isso, o mundo não acaba e a vida segue igual, como antes.

Um sincero e merecido Feliz ano novo para todos nós.

Edison Eloy de Souza / dezembro 2019


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