quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Arte de Escrever


REFLEXÕES 6 / A ARTE DE ESCREVER

Escrever, para mim, é um ato de libertação.

Assim como desenhar, pintar, falar, cozinhar plantar, tocar um instrumento musical, a escrita nos liberta da solidão, da angústia, do mal de Alzheimer e tantas outros estados da alma, fazendo-nos viajar na imaginação, na criatividade e no sonho de uma vida melhor.

Escrever é um ato pessoal e solitário, que nos permite expressar nossa visão de mundo, através de ideias, sentimentos, inquietações, reflexões. conhecimento, experiencia, de modo a transmitir, provocar e despertar sentimentos, emoções, dúvidas, conhecimento, até abalos, naqueles que nos leem.

Escrever é contar estórias, história, fatos culturais e científicos, acontecimentos, eventos, é registrar a memória individual e coletiva, cantar o amor e a frustração, o sucesso e a tragédia, é polemizar sobre ideias e assuntos vários e tudo mais que diz respeito a experiencia humana.

Diferentemente da imagem fotográfica, a escrita nos obriga o exercício da imaginação, da interpretação, do devaneio, tão importantes na construção e manutenção da saúde mental.
Acho que quem me despertou para o prazer da leitura e da escrita, além da base do Estadual da Penha, foi um professor do cursinho Anglo Latino, chamado Hildebrando Afonso de André, lá pelos idos de 1988, forçado um pouco pelo terror do vestibular.

Ia às suas boas aulas no sábado as 7.30 hs da manhã, na rua Tamandaré na Aclimação, saindo do Cangaiba onde morava. Fui feliz nesse vestibular onde caiu para fazer a análise sintática do trecho do Gigante Adamastor, dos Lusíadas de Camões. Olhem como era o vestibular naquela época.

Escrever sem obrigação é uma dádiva, um privilégio, um prazer, principalmente para quem já foi forçado a escrever relatórios profissionais, trabalhos acadêmicos, planos diretores e de metas, memoriais e planilhas, além de outras chatices promocionais mentirosas.

Porém, não é preciso ser erudito, pedante ou arrogante para escrever e se comunicar bem; basta procurar ser simples ao transmitir uma mensagem ou ideia. Veja o absurdo que é a linguagem jurídica, que quanto mais empolada, hermética, e onanista mental, mais causa enfado. Há outras igualmente, como os laudos médicos ou análises econômicas, que apesar da devidas justificativas técnicas, procuram esconder ou camuflar a verdade. São chatas igualmente.

Mas não se engane, como qualquer arte, escrever não é uma empreitada fácil, pois exige treino, tempo, pesquisa, observação, dedicação, disciplina e aplicação.
Quantas horas diárias de ensaio não são necessárias para aprender a tocar e dominar um instrumento musical? Escrever é parecido.

Dificilmente um texto sai de uma sentada só; há muitas idas e vindas, rascunhos, edições e revisões para se transmitir a ideia exata do que se quer. Isso é recorrente em praticamente todos os autores consagrados.

Para escrever bem é preciso ler tudo e todos, prosa e verso, crônicas e biografias, clássicos e contemporâneos, nacionais e estrangeiros, sem preconceitos. De cada um se acrescenta um pouco. Veríssimos, Saramago, Amado, Milton Hatoum, Chico Buarque, Borges, Neruda, Fernanda Young, Fernanda Torres, Vinicius, Eduardo Gianetti, Laurentino Gomes Yuval Harari, e infindáveis outros autores que fazem parte obrigatória na trilha do aprendizado literário e humano.

Além de pesquisar, para adquirir vocabulário, forma, estilo, é fundamental reverenciar a PALAVRA em toda a sua plenitude e significado, respeitar a gramática, a ortografia, a concordância, a clareza, sem mutilá-la com cortes, abreviações e outras aberrações, tão em voga na atual escrita eletrônica, que me provocam urticaria e ojeriza.

Praticar e defender o texto escrito é um ato de resistência e permanência, face a crescente substituição do livro impresso pelas mídias eletrônicas e a proliferação das fake News.

Praticar o texto escrito também é um ato revolucionário, enquanto destinado a alfabetizar pessoas; principalmente em nosso país, onde muitos ainda não conseguem ler seu próprio nome e as palavras básicas, quanto mais escrever o necessário para sua própria sobrevivência.

Vocês que sabem e podem, escrevam mais, sem compromisso, pois escrever também é viver, como diria um poeta qualquer.

Vida longa ao texto escrito, honesto e sensível.

VIVA A ESCRITA

Edison Eloy de Souza / dezembro 2019


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