REFLEXÕES 6 / A ARTE DE
ESCREVER
Escrever, para mim, é um ato
de libertação.
Assim como desenhar, pintar,
falar, cozinhar plantar, tocar um instrumento musical, a escrita nos liberta da
solidão, da angústia, do mal de Alzheimer e tantas outros estados da alma,
fazendo-nos viajar na imaginação, na criatividade e no sonho de uma vida
melhor.
Escrever é um ato pessoal e
solitário, que nos permite expressar nossa visão de mundo, através de ideias,
sentimentos, inquietações, reflexões. conhecimento, experiencia, de modo a
transmitir, provocar e despertar sentimentos, emoções, dúvidas, conhecimento,
até abalos, naqueles que nos leem.
Escrever é contar estórias, história,
fatos culturais e científicos, acontecimentos, eventos, é registrar a memória
individual e coletiva, cantar o amor e a frustração, o sucesso e a tragédia, é polemizar
sobre ideias e assuntos vários e tudo mais que diz respeito a experiencia
humana.
Diferentemente da imagem
fotográfica, a escrita nos obriga o exercício da imaginação, da interpretação,
do devaneio, tão importantes na construção e manutenção da saúde mental.
Acho que quem me despertou
para o prazer da leitura e da escrita, além da base do Estadual da Penha, foi
um professor do cursinho Anglo Latino, chamado Hildebrando Afonso de André, lá
pelos idos de 1988, forçado um pouco pelo terror do vestibular.
Ia às suas boas aulas no
sábado as 7.30 hs da manhã, na rua Tamandaré na Aclimação, saindo do Cangaiba
onde morava. Fui feliz nesse vestibular onde caiu para fazer a análise sintática
do trecho do Gigante Adamastor, dos Lusíadas de Camões. Olhem como era o
vestibular naquela época.
Escrever sem obrigação é uma
dádiva, um privilégio, um prazer, principalmente para quem já foi forçado a
escrever relatórios profissionais, trabalhos acadêmicos, planos diretores e de
metas, memoriais e planilhas, além de outras chatices promocionais mentirosas.
Porém, não é preciso ser
erudito, pedante ou arrogante para escrever e se comunicar bem; basta procurar
ser simples ao transmitir uma mensagem ou ideia. Veja o absurdo que é a
linguagem jurídica, que quanto mais empolada, hermética, e onanista mental,
mais causa enfado. Há outras igualmente, como os laudos médicos ou análises econômicas,
que apesar da devidas justificativas técnicas, procuram esconder ou camuflar a
verdade. São chatas igualmente.
Mas não se engane, como
qualquer arte, escrever não é uma empreitada fácil, pois exige treino, tempo,
pesquisa, observação, dedicação, disciplina e aplicação.
Quantas horas diárias de
ensaio não são necessárias para aprender a tocar e dominar um instrumento
musical? Escrever é parecido.
Dificilmente um texto sai de
uma sentada só; há muitas idas e vindas, rascunhos, edições e revisões para se
transmitir a ideia exata do que se quer. Isso é recorrente em praticamente
todos os autores consagrados.
Para escrever bem é preciso
ler tudo e todos, prosa e verso, crônicas e biografias, clássicos e contemporâneos,
nacionais e estrangeiros, sem preconceitos. De cada um se acrescenta um pouco. Veríssimos,
Saramago, Amado, Milton Hatoum, Chico Buarque, Borges, Neruda, Fernanda Young,
Fernanda Torres, Vinicius, Eduardo Gianetti, Laurentino Gomes Yuval Harari, e
infindáveis outros autores que fazem parte obrigatória na trilha do aprendizado
literário e humano.
Além de pesquisar, para adquirir
vocabulário, forma, estilo, é fundamental reverenciar a PALAVRA em toda a sua
plenitude e significado, respeitar a gramática, a ortografia, a concordância, a
clareza, sem mutilá-la com cortes, abreviações e outras aberrações, tão em voga
na atual escrita eletrônica, que me provocam urticaria e ojeriza.
Praticar e defender o texto
escrito é um ato de resistência e permanência, face a crescente substituição do
livro impresso pelas mídias eletrônicas e a proliferação das fake News.
Praticar o texto escrito também
é um ato revolucionário, enquanto destinado a alfabetizar pessoas; principalmente
em nosso país, onde muitos ainda não conseguem ler seu próprio nome e as
palavras básicas, quanto mais escrever o necessário para sua própria
sobrevivência.
Vocês que sabem e podem, escrevam
mais, sem compromisso, pois escrever também é viver, como diria um poeta
qualquer.
Vida longa ao texto escrito,
honesto e sensível.
VIVA A ESCRITA
Edison Eloy de Souza /
dezembro 2019
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