quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

As Cidades estão todas iguais/


AS CIDADES ESTÃO TODAS IGUAIS?
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Todas as metrópoles e cidades grandes, fruto do fenômeno da globalização, acabaram por apresentar uma parte considerável do seu território com uma impressionante uniformização no aspecto visual da sua paisagem urbana.

Não precisa ser muito observador para comprovar essa afirmação na estrutura urbana de São Paulo, por exemplo, composta pela maioria das principais vias comerciais da nossa cidade. Minhas andanças paulistanas, como um curioso e interessado nas questões urbanas corrobora essa assertiva.

Pelo menos do ponto de vista da ocupação dos seus pontos comerciais e de alguns serviços locais, nas várias regiões da cidade, há uma uniformização impressionante, com sutis diferenças, manifesta pela presença e a padronização dos seus elementos de identificação e comunicação.

Excetuando algumas ruas diferenciadas de comercio especializado ou sofisticado, como Ocar Freire, São Caetano, Florêncio de Abreu, dificilmente você diferencia se está na Avenida Jabaquara, na Avenida Penha de França, na rua São Bento, rua Voluntários da Pátria, Rua 12 de Outubro, entre outras.

São sempre os mesmos estabelecimentos: Mc Donalds, Pizza Hut, Drogasil, Raia, Bradesco, Itaú, Santander, Casas Bahia, Marisa, Pao de Açucar, Casa do Pão de Queijo, Pernambucanas, .Havaianas, Dr.Consulta, Toyota, VW, Igreja Universal, Kalunga, Shell, Petrobras, a ocupar nossas vias principais.

Nota-se, porém, lamentavelmente, a falta de livrarias, equipamentos culturais e de lazer, áreas verdes, mas sobram farmácias e drogarias, como marca registrada de uma cidade doente com habitantes idem.

Hoje até a maioria dos edifícios corporativos das cidades globais guardam bastante semelhança, pois tem a mesma linguagem arquitetônica, na volumetria, no emprego dos materiais de construção e acabamento, contribuindo assim para confundir uma cidade com outra.

Complementarmente isso vale também para a sinalização urbana das vias, o posteamento, a balburdia da fiação, os pontos de ônibus, as bancas de jornais, algum mobiliário urbano quando existe, que são padronizados, o que contribui bastante para essa uniformização. Excetuam as linhas de ônibus e de metro que, pelo menos, tem cores e números diferentes.

Curioso observar que também as pessoas que circulam pelas cidades guardam uma certa semelhança, mesmo que seja por modismos. Os executivos com seus ternos e gravatas quase iguais; os demais funcionários, como robôs. exibindo seus crachás pendurados. Os demais transeuntes se comportam e se trajam de forma mais descontraída, tem cabelos revoltos e coloridos, tatuam o corpo inteiro e falam uma língua própria, principalmente os jovens. Mas também estão muito parecidos.

Todos, sem exceção, não largam o respectivo celular, talvez o objeto que une todas as pessoas do planeta.

Até na onda repressão aos protestos por liberdade e melhores condições de vida, que toma conta do mundo, as cidades estão se parecendo; prevalece a violência policial contra  manifestantes indefesos, como num sinistro balé orquestrado, oriundo de uma mentalidade militar unificada.

Parece que você está sempre no mesmo lugar da terra.  Que é redonda, diga-se de passagem.

Numa cacofonia e poluição visual, as identificações e comunicações desses estabelecimentos das redes são expressos com bastante  agressividade, através dos seus luminosos, logotipos, cores e toda sorte de apelo publicitário, disputando o olhar e a atenção do consumidor, sacrificando e escondendo os edifícios e a identidade do lugar.

Essas grandes redes e cadeias de varejo e serviços, como os supermercados, os shopping centers, escolas, igrejas, consultórios, agências bancárias, fast foods, drogarias, barbers-shop, padarias, postos abastecimento, lojas de eletrônicos, de informática, pastelarias e demais estabelecimentos traduzem esse macaquice cultural de terem seus nomes escritos em inglês, como se isso refletisse alguma qualidade inerente.

Raramente sobrevivem os pequenos comerciantes locais, aquele saudoso mercadinho da caderneta, o açougue, a mercearia, a quitanda, o sapateiro, o bar da esquina, que foram sufocados pelas grandes corporações nacionais e internacionais.

O limite dessa situação de conformidade globalizada, talvez seja um passeio por qualquer shopping center para se sentir assim, como se tivesse em qualquer cidade do mundo.  Ele é estruturado em um labirinto deliberado, com escadas rolantes desencontradas, composto por um mix de lojas das grifes globais mais famosas, praças de alimentação, cinemas, etc, transformados em templos sagrados do consumo moderno.

Nesses shoppings tem presenças garantidas: Lacoste, Occitane, Le Lis Blanc, Le Postiche, M.Officer, Natura,Nexpresso, Outback, Havana, Vivara, Vila Romana, Vivo, Zara, Zelo, Renner, Julio Okubo, Intimissimi, Sansung, Aple, Crawford, e todas as existentes nas praças de alimentação como Mc Donalds, Almanara, Andiamo, Pizza Hut, Spoleto, Viena, Vivenda do Camarão, Starbucks, além dos Caixas eletrônicos e alguns serviços.

Permanecemos atônitos, desorientados, catatônicos até, em função dessa verdadeira doutrinação cultural e lavagem cerebral a que estão sujeitas nossas cidades e nós como seus habitantes. 
  
Nesse mundo urbano globalizado e homogeneizado, é possível mudar esse Quadro comum das nossas cidades?

Tarefa complexa, que deve passar por mudanças de comportamento social em termos das formas e febre de consumo, de sustentabilidade, de uma consciência ecológica, de avanços tecnológicos etc.

Talvez com a adoção de políticas públicas que visem resgatar, valorizar e reforçar as características físicas e humanas, próprias e identificadoras de cada cidade em particular, em termos visuais, geográficos, culturais, artísticos, turísticos, gastronômicos etc.

No nosso caso brasileiro estas medidas deveriam ser precedidas pela solução das suas questões de infraestrutura urbana básica, ligadas ao uso do solo, saneamento, habitação, mobilidade e segurança, através do planejamento, execução e gestão, comprometidas prioritariamente com o interesse público.

Desejos e anseios de um arquiteto urbanista brasileiro, sonhando alto.




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