AS CIDADES ESTÃO TODAS IGUAIS?
Todas as metrópoles e cidades
grandes, fruto do fenômeno da globalização, acabaram por apresentar uma parte
considerável do seu território com uma impressionante uniformização no aspecto visual
da sua paisagem urbana.
Não precisa ser muito observador
para comprovar essa afirmação na estrutura urbana de São Paulo, por exemplo, composta
pela maioria das principais vias comerciais da nossa cidade. Minhas andanças
paulistanas, como um curioso e interessado nas questões urbanas corrobora
essa assertiva.
Pelo menos do ponto de vista
da ocupação dos seus pontos comerciais e de alguns serviços locais, nas várias
regiões da cidade, há uma uniformização impressionante, com sutis diferenças,
manifesta pela presença e a padronização dos seus elementos de identificação e
comunicação.
Excetuando algumas ruas diferenciadas
de comercio especializado ou sofisticado, como Ocar Freire, São Caetano, Florêncio
de Abreu, dificilmente você diferencia se está na Avenida Jabaquara, na Avenida
Penha de França, na rua São Bento, rua Voluntários da Pátria, Rua 12 de Outubro,
entre outras.
São sempre os mesmos
estabelecimentos: Mc Donalds, Pizza Hut, Drogasil, Raia, Bradesco, Itaú, Santander,
Casas Bahia, Marisa, Pao de Açucar, Casa do Pão de Queijo, Pernambucanas, .Havaianas,
Dr.Consulta, Toyota, VW, Igreja Universal, Kalunga, Shell, Petrobras, a ocupar
nossas vias principais.
Nota-se, porém, lamentavelmente,
a falta de livrarias, equipamentos culturais e de lazer, áreas verdes, mas
sobram farmácias e drogarias, como marca registrada de uma cidade doente com
habitantes idem.
Hoje até a maioria dos
edifícios corporativos das cidades globais guardam bastante semelhança, pois
tem a mesma linguagem arquitetônica, na volumetria, no emprego dos materiais de
construção e acabamento, contribuindo assim para confundir uma cidade com
outra.
Complementarmente isso vale também
para a sinalização urbana das vias, o posteamento, a balburdia da fiação, os
pontos de ônibus, as bancas de jornais, algum mobiliário urbano quando existe, que
são padronizados, o que contribui bastante para essa uniformização. Excetuam as
linhas de ônibus e de metro que, pelo menos, tem cores e números diferentes.
Curioso observar que também as
pessoas que circulam pelas cidades guardam uma certa semelhança, mesmo que seja
por modismos. Os executivos com seus ternos e gravatas quase iguais; os demais
funcionários, como robôs. exibindo seus crachás pendurados. Os demais transeuntes
se comportam e se trajam de forma mais descontraída, tem cabelos revoltos e
coloridos, tatuam o corpo inteiro e falam uma língua própria, principalmente os
jovens. Mas também estão muito parecidos.
Todos, sem exceção, não largam
o respectivo celular, talvez o objeto que une todas as pessoas do planeta.
Até na onda repressão aos
protestos por liberdade e melhores condições de vida, que toma conta do mundo, as
cidades estão se parecendo; prevalece a violência policial contra manifestantes indefesos, como num sinistro balé
orquestrado, oriundo de uma mentalidade militar unificada.
Parece que você está sempre no
mesmo lugar da terra. Que é redonda,
diga-se de passagem.
Numa cacofonia e poluição
visual, as identificações e comunicações desses estabelecimentos das redes são
expressos com bastante agressividade, através
dos seus luminosos, logotipos, cores e toda sorte de apelo publicitário,
disputando o olhar e a atenção do consumidor, sacrificando e escondendo os
edifícios e a identidade do lugar.
Essas grandes redes e cadeias
de varejo e serviços, como os supermercados, os shopping centers, escolas,
igrejas, consultórios, agências bancárias, fast foods, drogarias, barbers-shop,
padarias, postos abastecimento, lojas de eletrônicos, de informática, pastelarias
e demais estabelecimentos traduzem esse macaquice cultural de terem seus nomes
escritos em inglês, como se isso refletisse alguma qualidade inerente.
Raramente sobrevivem os
pequenos comerciantes locais, aquele saudoso mercadinho da caderneta, o
açougue, a mercearia, a quitanda, o sapateiro, o bar da esquina, que foram
sufocados pelas grandes corporações nacionais e internacionais.
O limite dessa situação de
conformidade globalizada, talvez seja um passeio por qualquer shopping center
para se sentir assim, como se tivesse em qualquer cidade do mundo. Ele é estruturado em um labirinto deliberado, com
escadas rolantes desencontradas, composto por um mix de lojas das grifes
globais mais famosas, praças de alimentação, cinemas, etc, transformados em templos
sagrados do consumo moderno.
Nesses shoppings tem presenças
garantidas: Lacoste, Occitane, Le Lis Blanc, Le Postiche, M.Officer, Natura,Nexpresso,
Outback, Havana, Vivara, Vila Romana, Vivo, Zara, Zelo, Renner, Julio Okubo, Intimissimi,
Sansung, Aple, Crawford, e todas as existentes nas praças de alimentação como
Mc Donalds, Almanara, Andiamo, Pizza Hut, Spoleto, Viena, Vivenda do Camarão,
Starbucks, além dos Caixas eletrônicos e alguns serviços.
Permanecemos atônitos, desorientados,
catatônicos até, em função dessa verdadeira doutrinação cultural e lavagem
cerebral a que estão sujeitas nossas cidades e nós como seus habitantes.
Nesse mundo urbano globalizado
e homogeneizado, é possível mudar esse Quadro comum das nossas cidades?
Tarefa complexa, que deve
passar por mudanças de comportamento social em termos das formas e febre de
consumo, de sustentabilidade, de uma consciência ecológica, de avanços tecnológicos
etc.
Talvez com a adoção de políticas
públicas que visem resgatar, valorizar e reforçar as características físicas e
humanas, próprias e identificadoras de cada cidade em particular, em
termos visuais, geográficos, culturais, artísticos, turísticos, gastronômicos
etc.
No nosso caso brasileiro estas
medidas deveriam ser precedidas pela solução das suas questões de
infraestrutura urbana básica, ligadas ao uso do solo, saneamento, habitação,
mobilidade e segurança, através do planejamento, execução e gestão,
comprometidas prioritariamente com o interesse público.
Desejos e anseios de um
arquiteto urbanista brasileiro, sonhando alto.
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