sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A SIMULTANEIDADE DAS COISAS / OUT 2011

Sabe quando acontece tudo ao mesmo tempo, como uma avalanche de coisas, situações e emoções incontroláveis?

Não são só as desgraças e catástrofes naturais vêm concentradas com tudo, em curtos períodos de tempo e sempre acompanhadas de grandes conseqüências, e sequelas, também os acontecimentos da vida, bons ou ruins, sempre vem aos borbotões, de forma avassaladora e sem praticamente controle.

Por esses caprichos do destino há coisas que acontecem na vida da gente de forma tão concentrada, num curto período de tempo, de forma imprevisível e surpreendente, que torna praticamente incontrolável sua condução. Somos arrastados num torvelinho desenfreado de situações absolutamente fora de controle.

De repente, somos surpreendidos com uma avalancha de fatos e atividades excessivas, não programadas, que causam um tremendo tumulto em nossa vida cotidiana, tornando os dias muito curtos para poder desempenhá-las.

Ficamos tão envolvidos e absortos nos desdobramentos das ações originais que pagamos um preço exagerado para poder desempenhá-los.

Comigo acontece esse fenômeno em períodos recorrentes, como agora, me vendo envolvido numa enxurrada de fatos positivos, mas perturbadores, pois não tinham definição de prazo para acontecerem e que se precipitaram simultaneamente, sem nenhum aviso prévio.

Neste  momento enfrento pelo menos 4 situações pessoais importantes, daquelas que revolucionam sua vida e que passam a exigir uma extrema dedicação de atenção e tempo, provocando um extremo desgaste físico e mental.

Situações estressantes assim já estavam fora da minha pauta há algum tempo, por isso o estranhamento e o desgaste. Sinto que o ritmo está muito acelerado para os meus varonis 70 anos.
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Residencia Rua Chanés

A primeira situação é minha despedida da Residência da Chanés em Moema.

Estou vendendo minha residência de S.Paulo, onde vivo há 36 anos com minha mulher, criei minhas 3 filhas e também exerci plenamente minha profissão de arquiteto e professor.

Esse projeto da venda, acalentado há muito tempo, faz parte da ideia de uma vida mais tranqüila e com mais qualidade na nossa fase derradeira, na chamada melhor idade.

Além disso, almeja aliar a possibilidade de mudarmos nossa rotina de vida, permitindo acumular também uma reserva financeira, com a diferença da operação imobiliária, visando criar condições para avançarmos mais no tempo, sem maiores preocupações básicas; Não podemos esquecer que nessa altura do fluxo de caixa há praticamente somente saídas, pois a única entrada da aposentadoria não fecha o caixa. Sem falar, por outro lado, que não gostaríamos de depender dos filhos na velhice.

Além disso, creio que fizemos um bom negocio, por um bom preço a vista, onde já recebemos o sinal e o restante virá na assinatura da escritura, que acontecerá no começo do ano.

Isto é, em 60 dias devemos desocupá-la de forma definitiva e para sempre. Não é muito fácil, não.

Só esse fato já cria um grande reboliço, pois envolve os preparativos físicos da mudança, para organizar tudo, desmontando e desmobilizando todo o mobiliário, equipamentos, aparelhos, livros e tudo o mais para entregar a casa totalmente limpa; tarefa árdua, pois obriga uma limpeza geral se desvencilhando de muitos guardados que já não servem mais, embalando livros, separando roupas, loucas, utensílios, quinquilharias mil, etc, etc sem fim.

Além dessa autentica revolução nos objetos guardados começa um processo mental de grande ansiedade e insegurança por aquilo que está por vir, aliadas pela busca do desapego à extensa memória construída neste lugar.

Quantas saudades vamos sentir do antigo cantinho, das plantas, da generosidade e luminosidade dos espaços por mim construídos, das meninas crescendo, dos netos chegando, das inúmeras festas e reuniões havidas, dos apertos passados, das facilidades dos serviços diários, dos aviões sobrevoando e tantas outras memoráveis?


Esse é o motivo do primeiro estresse que vivo no momento.

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Edifício Marahu / S.vicente

O segundo evento, que decorreu do primeiro, é o processo de aquisição de um novo lugar para morar em substituição à referida casa. Nesse aspecto estamos cumprindo um grande sonho para o final de vida, tentado inicialmente em Ubatuba que não conseguiu se viabilizar.

Decidimos pela Baixada Santista, por sua proximidade,alguma afinidade anterior e melhor infra estrutura econômica, social e cultural.

Depois de algumas idas para lá, descobri um lindo apartamento no Edifício Marahu, na Praia do Itararé, junto à Ilha Porchat, que ilustramos acima. O Marahu é um tradicional edifício modernista dos anos 50, de ótima arquitetura, projeto do Arquiteto Lauro da Costa Lima, por preço compatível com o seu conforto e as condições do lugar. Ele é de frente para o mar, junto à Praia dos Milionários e do Itararé, fica no terceiro andar e possui amplos e confortáveis espaços para se viver bem e receber os familiares e amigos
.
Claro que há muitas diferenças do apartamento do Marahu em relação à residência da Rua Chanés. O tamanho é menor, mas com 3 dormitórios, salas de estar-jantar, cozinha, serviços e amplos apoios, num condomínio de alto padrão;Sairemos de uma residência individual na agitada e hoje caótica e cara Moema, para vivermos na tranqüilidade do litoral, com direito direto ao mar e extenso jardim na porta, verde em toda a volta, navios ao largo, etc, etc. sem maiores compromissos obrigatórios. Pura mordomia, que julgo merecida, construída depois de muita luta e trabalho.
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Livro Arquitetura Avenida Paulista

A esses dois episódios devo acrescentar um terceiro, não menos importante.

O lançamento do meu livro Arquitetura da Avenida Paulista, outro projeto trabalhado há bastante tempo e que se precipitou também neste final de ano, por uma série de circunstancias fortuitas.

Produzi totalmente o livro durante mais de um ano, praticamente sozinho, escrevendo, fotografando, criando as artes, fazendo contatos, buscando patrocínios,etc, num árduo trabalho que só quem passou pela experiencia pode avaliar.

Resultado é que para o seu lançamento ocorrer tive também que financiar a impressão, pois não queria passar de novo pela frustração de ver um livro pronto na gaveta.

Observo que essa foi minha terceira tentativa de publicar um livro ( o primeiro foi sobre a cidade de Palmas, capital do Tocantins, onde documentamos nossa participação nos seus 7 anos iniciais, verdadeira epopeia pessoal e profissional. Mesmo enquadrado na Lei Rouanet de incentivos fiscais, não conseguimos viabilizá-lo. O 2º foi a dissertação de mestrado, sobre Arquitetura e Geometria, verdadeiro calhamaço acadêmico de 500 e tantas paginas, que poderia ter sido útil pra muita gente do ponto de vista didático).

Assim fiz a impressão de 1.000 exemplares, bem como outros 1.000 folders, decorrentes da proposta gráfica. Novos desafios deverão ser enfrentados daqui pra frente quando da distribuição e venda desses produtos, onde a parte do leão fica com os distribuidores e as livrarias.

Isso demonstra o ato heroico ou talvez insano de publicar um livro entre nós, importante atividade intelectual, considerada elitista e de pouca relevância entre nós, como todas ligadas ä cultura.


Um quarto e último acontecimento de caráter positivo, também tem peso emocional significativo: refiro-me a decisão judicial favorável, declarando extinta a punibilidade, depois de um longo processo que sofrei por 14 anos.

É um processo referente ao projeto que realizei para o Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins em que fui acusado injustamente de superfaturamento nos honorários profissionais; Nele fui envolvido involuntariamente, como um réu pateta, no meio de figurões, como desembargadores acusados de corrupção, que de fato houve no caso.

Durante todo esse tempo processual de sérias preocupações, sofri inúmeros constrangimentos, me obrigando a constituir vários advogados para me defender de falsas e graves acusações.

É preciso acrescentar que todos esses acontecimentos se afunilaram no final do ano, coincidindo ainda com as festas de natal e ano novo, bem como as programadas férias de verão, incluindo os recessos comerciais e forenses.

É evidente que todos esses acontecimentos são maravilhosos e fantásticos como realização ou conclusão, mas que somados, e acontecendo todos ao mesmo tempo, causam uma verdadeira revolução na rotina diária, que já não estamos mais habituados.

Assim, essa correria desenfreada forma uma onda de felicidade, mas cria um frenesi muito frenético e estressante, desequilibrando as energias e vindo cobrar um alto preço na saúde física e mental.

Amigos.Todo esse relato não objetiva causar qualquer inveja em vocês, mas compartilhar um estado de graça, um momento raro na minha existência, que pode servir de inspiração para muitos.





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