sexta-feira, 7 de novembro de 2014

EXPECTATIVA DE MUDANÇA / DEZ 2011

É difícil controlar a ansiedade neste processo de mudança que estou vivendo.

Nesta altura da vida, deixar uma casa enorme, onde moro há 36 anos em Moema para mudar para o litoral é sempre meio inquietante.

A tomada da difícil decisão passa necessariamente pela análise de vários fatores que a influenciam e que certamente vão afetar o modo de vida seguinte.

A pergunta inicial é porque dessa decisão? O que a justifica? E preciso buscar justificativas? Viveremos melhor? Será benéfico?

Sou nascido e criado na capital paulistana, onde estudei, trabalhei, venci e por ela morro de amores; entretanto acho que chegou o momento de mudar de ninho; são vários os motivos que me levam a isso, entre os quais:

Estou com 71 anos, ainda saudável, aposentado do embate diário, sem compromissos profissionais fixos, 3 filhas já criadas, ou seja, livre para me ocupar com outras atividades aleatórias, intelectuais, culturais, de lazer, etc.

Comprei a casa onde moro em 1975, dez anos após minha formatura como arquiteto, quando nasceu minha 2ª. Filha, mudando de um pequeno apartamento na Rua Silvia. Era um tempo de coragem e confiança, de futuro pessoal, apesar de vivermos numa Ditadura política.

Na época era uma casa velha, a ser reformada, que adquiri com financiamento pela Carteira Hipotecaria da CEF para ser pago em 10 anos. Na transferência dei sorte, pois o proprietário Sr. Waldemar, me contratou para fazer o projeto da nova casa dele, o que aliviou um pouco a entrada.

Quando comprei a casa, em 1975, o bairro de Moema era muito tranqüilo, com um transito suportável e poucos edifícios altos. Para vocês terem uma idéia terem, não havia ainda a Avenida dos Bandeirantes, não havia o Shopping Ibirapuera, os bondes ainda passaram na Avenida Ibirapuera em direção a Santo Amaro e a proximidade do Parque Ibirapuera dava uma qualidade de ar bastante boa.

O que incomodava um pouco era a proximidade do Aeroporto de Congonhas, que operava diuturnamente, já que a casa ficava na rota de pousos e decolagens dos aviões. Mas como dizia o vizinho alemão, neurótico de guerra: “Com o tempo você acostuma”. Ao que poderia acrescentar: “Ou fica surdo ou louco”.

Mas, durante todo o período de pagamento, suei sangue, suor e lágrimas para pagar as prestações, já que com a inflação e o sistema de amortização os reajustes anuais eram impagáveis, que obrigava o refinanciamento constante.
Os 10 anos do contrato inicial duraram 15 anos.

Aliás, a inflação que chegou a índices superiores a 1% ao dia, desnorteou economicamente toda a minha geração. Sem falar a frustração política e o medo do regime militar. Mas isso merece um capitulo especial.

Tudo isso foi muito duro, deixou marcas, mas felizmente já passou.

Minha casa é grande, 320 m2 de área construída, confortável, espaços característicos da arquitetura moderna brasileira, com vários níveis, ambientes amplos, claros e abertos, 3 dormitórios com varanda, sala de estar, 4 banheiros, cozinha planejada, área de serviço, salão de festas, apto de hospedes, garagem coberta para 2 autos, churrasqueira, quintal com churrasqueira, 1 jabuticabeira sempre carregada, parreira com uvas produzindo, 1 mixiriqueira, 1 caramboleira, temperos e varias outras plantas. Acabamentos simples, mas bons. Está conservada. Uma beleza.

Foi nesta casa que morei, trabalhei, criei minha família, reuni os parentes e amigos, fiz muitas festas e reuniões, toquei meu pandeiro, e principalmente vivi ótimos momentos da vida.

Agora o trabalho acabou, vivo só com a mulher nesta casa grande, as 3 filhas se mudaram, duas para perto, os 5 netos vivem rodeando, mas cada qual tem vidas próprias e independentes.

O bairro está bem diferente com um uso extremamente diversificado, incluindo oficinas mecânicas, karaokês, boites gay, etc. sem fiscalização nenhuma fiscalização, com um transito infernal, poluído, dependendo da Av. dos Bandeirantes e 23 de Maio, para acessar ou sair, com uma densidade incompatível com a infra-estrutura, etc.etc. A previsão do metro é para daqui a 2 anos ou mais.

É verdade que a região é servida de todos os equipamentos urbanos necessários, tais como restaurantes, bares, supermercados, padarias e verdurões sofisticados, mas todos também acompanhados de mais transito, valets sem controle, e tudo o mais.

Apesar de achar que a mudança será muito bem vinda, sempre há um certo receio na adaptação das novas situações. Mas acredito será fácil se acostumar a melhores condições de qualidade de vida.



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