Ninguém pergunta se você precisa de alguma coisa,
                                Se você dormiu bem à noite,
                                Se você tomou os remédios,
                                Se você quer um chá,
                                Se você quer ajuda para arrumar a mala,
                                Se você precisa de companhia para ir ao medico,
Ninguém te acompanha de mãos dadas,
                               Na caminhada na praia,
                               No almoço por quilo,
                               Na happy hour,
                               Na sopa da noite
Ninguém fica junto contigo quando precisa
                               Abraçar-te no frio
                               Comemorar suas vitorias 
                               Chorar suas magoas e tristezas
Ninguém em casa te diz bom dia,
                               Boa noite,
                               Vai com Deus
                               Fica bem
Ninguém te chama de Souza,
                                Te Tira do sério de vez em quando,
                                Teima daquele jeito,
                                Tem aquela cor morena e o jeito maroto,
                                Tem aquelas unhas vermelhas,
As filhas estão ocupadas e atribuladas,
                              É o tempo delas, 
                              A família dispersa,
                              Cada um na sua,
                              Os almoços de domingo são raros,
                              Não há neto que dê conta disso
Longe dos poucos amigos verdadeiros que restam,
                             Do estadual da Penha, da FAU-Maranhão, do Bar do Zé
                             Uma pena, pois fazem muita falta,
Ninguém presta muita atenção a você
                             Nas festas e rodas de conversas
                             Resta sobreviver da melhor forma
                             Enfrentando as limitações do corpo e da mente
                             Com ajuda medica e dos medicamentos
Já não te procuram para contar coisas vividas
                             Para passar conhecimentos e experiencia
                             Para contar as viagens feitas
                             Para mostrar os projetos construídos
Tens mais passado, que futuro
                             O presente sendo levado devagar
                             Com monotonia e sem graça
Sem excitação e alegria
Sem excitação e alegria
A revolta intelectual continua presente,latente
                             Mas contida ou amordaçada.
                             Ceticismo e frustração batendo fortes
                             Raiva com as carências humanas básicas
                             Inconformismo com os rumos políticos
Mesmo na multidão, a sensação é de uma solidão estranha
                             Não é de paz, de silêncio,
                             De tranqüilidade ou reflexão,
                             Falta alguma coisa
A opção de ser calunga em São Vicente pareceu boa
                              Ficar e morrer no seu canto, 
                              Em paz, a ver navios,
                              Sem incomodar ninguém,
                              Nem sem incomodado,
Pena que não combina comigo
     Agora não vai dar...
                Tenho que adiar mais uma vez
                Pois a luta pela vida me convoca
                                     Remar é preciso
                                     Mesmo no meio do oceano
A sensação é de cruel desamparo 
               De perda, de fossa,
                                    Que dói bastante,
                                    Que incomoda,
                                    Que deixa saudade...
                      Saudade que dá vontade de gritar...
                      Cadê o café Isolina...
               Cadê você...             
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