segunda-feira, 10 de novembro de 2014

VIVER SO



Ninguém pergunta se você precisa de alguma coisa,
                               Se você dormiu bem à noite,
Se você tomou os remédios,
                               Se você quer um chá,
                      Se você quer ajuda para arrumar a mala,
Se você precisa de companhia para ir ao medico,

Ninguém te acompanha de mãos dadas,
        Na caminhada na praia,
        No almoço por quilo,
        Na happy hour,
        Na sopa da noite

Ninguém fica junto contigo quando precisa
       Abraçar-te no frio
                Comemorar suas vitorias
                Chorar suas magoas e tristezas

Ninguém em casa te diz bom dia,
            Boa noite,
             Vai com Deus
                             Fica bem

Ninguém te chama de Souza,
Te Tira do sério de vez em quando,
               Teima daquele jeito,
    Tem aquela cor morena e o jeito maroto,
     Tem aquelas unhas vermelhas,

As filhas estão ocupadas e atribuladas,
É o tempo delas,
A família dispersa,
Cada um na sua,
Os almoços de domingo são raros,
Não há neto que dê conta disso

Longe dos poucos amigos verdadeiros que restam,
Do estadual da Penha, da FAU-Maranhão, do Bar do Zé
Uma pena, pois fazem muita falta,
Ninguém presta muita atenção a você
Nas festas e rodas de conversas
Resta sobreviver da melhor forma
Enfrentando as limitações do corpo e da mente
                            Com ajuda medica e dos medicamentos

Já não te procuram para contar coisas vividas
           Para passar conhecimentos e experiencia
Para contar as viagens feitas
                            Para mostrar os projetos construídos
Tens mais passado, que futuro
O presente sendo levado devagar
Com monotonia e sem graça
Sem excitação e alegria

A revolta intelectual continua presente,latente
Mas contida ou amordaçada.
Ceticismo e frustração batendo fortes
Raiva com as carências humanas básicas
Inconformismo com os rumos políticos

Mesmo na multidão, a sensação é de uma solidão estranha
Não é de paz, de silêncio,
De tranqüilidade ou reflexão,
Falta alguma coisa
A opção de ser calunga em São Vicente pareceu boa
                             Ficar e morrer no seu canto,
       Em paz, a ver navios,
       Sem incomodar ninguém,
                             Nem sem incomodado,

Pena que não combina comigo
    Agora não vai dar...
      Tenho que adiar mais uma vez
      Pois a luta pela vida me convoca
Remar é preciso
Mesmo no meio do oceano

A sensação é de cruel desamparo
     De perda, de fossa,
                               Que dói bastante,
                                   Que incomoda,
                                   Que deixa saudade...

                Saudade que dá vontade de gritar...

                Cadê o café Isolina...
     Cadê você...            

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