sábado, 8 de novembro de 2014

O SENTIDO DE VIAJAR 2


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A Passarola de Bartolomeu de Gusmão

Na Universidade fiz várias viagens pelo Brasil, de carro ou no ônibus da FAU, o chamado Belo Antonio, que era bonito como Marcelo Mastroianni do filme, mas funcionava pouco. Fomos a  Belo Horizonte e cidades mineiras no carro do pai do Chico Crestana, o Célio (que já viajou fora do combinado), o Sadamu, o próprio Chico e eu.

Com o Belo Antonio, fomos a Bahia em memorável viagem, com a privilegiada companhia de Chico Buarque, Barão, Mane e Cia, todos ainda em fase de aprendizes de artistas e arquitetos, mas já boêmios. Foram tantas as estripulias ocorridas nesta viagem que fica pra uma próxima postagem.

Minha primeira viagem aérea foi de carona num DC-3 da FAB de Brasília a São Paulo, junto com militares e religiosos, depois de participar de um seminário estudantil sul americano. Fora o receio do batismo aéreo, estava com um medo danado, pois era o ano de 63, politicamente quente, às vésperas do golpe de 64 e eu já militava na política estudantil. Mas foi tudo bem e cheguei de surpresa ao casamento do Paulo, meu concunhado, graças à maior velocidade do avião em relação ao ônibus que tomaria.

Já minha primeira viagem internacional se deu de maneira curiosa e afortunada. Fui para o 9º Congresso Internacional de Arquitetos em Praga, ex Checoslováquia realizado em 1967. Eu era formado na FAU somente ha 2 anos e já era sócio do IAB – Instituto de Arquitetos do Brasil - S. Paulo.

Acontece que o IAB resolveu fazer um sorteio de duas passagens entre seus associados e, surpresa, acabei sendo o premiado. Ganhei as duas passagens, de forma aleatória e sem saber, pelo meu numero de associado, tirado pela Loteria Federal.
Quem me informou do resultado foi o Julinho Neves, presidente do IAB na época, que me felicitou, dizendo que era preferível um jovem a um arquiteto já maduro, que poderia pagar a passagem. Chocado com a surpresa, não sabia o que fazer.

Com 2 anos de formado eu não tinha onde cair morto; Começava  engatinhar na profissão, sem recursos, ainda com muitas pendências financeiras da formação, procurando o que fazer e que caminho tomar. Não tinha a menor condição de enfrentar essa batalha. Não tinha dinheiro, mas em compensação não tinha maiores vínculos: não tinha emprego fixo, nem mulher ou filhos e, minha mãe ia tocando o barco com a ajuda da minha irmã. Assim, não precisava convencer ninguém, além de mim e criar as condições favoráveis.

Todos os colegas me deram a maior força. O que fazer? Acho que faltavam uns 10 dias para a partida. Assanhado com a possibilidade aberta, mas sem muita esperança de chegar lá. De repente surgiu a saída mágica para solucionar o problema principal que era a grana. Como havia ganhado duas passagens, pois o IAB previu um acompanhante ao sortudo, achei uma alma caridosa que resolveu comprar a 2ª. Passagem. Meu querido amigo e colega Paulo Lucio de Brito, a quem também devo este presente.

Ai começou a maratona para viabilizar nossa ida. Fazer as reservas, a inscrição, tirar os passaportes, vistos, arrumar roupas, montar um roteiro e todo o mais necessário para uma viagem internacional, sem nenhuma experiência. O resto da preparação se deu numa louca seqüência de festas para a despedida. 

Nessa época havia festa praticamente toda a noite sob qualquer pretexto. Lembro que era 67, politicamente complicado, mas ainda com muita agitação, reuniões e muitas festas, por qualquer motivo, que varavam a noite. Bebia-se de tudo. Pitu, cerveja, vodca, o que viesse. Curioso que quase não rolava droga. Algum baseado e olha lá.

Aproveitei o pretexto da viagem para transar com todas as namoradas e pretendentes que disputavam a 2ª. Passagem para ir comigo. Malandramente eu escondi que já a tinha vendido para o Paulo Lúcio.

Assim foi meu batismo internacional quando embarquei para Praga, com escala em Dakar, num avião fretado da Air France onde se bebia e cantava do começo ao fim da viagem. Coitados dos coroas que queriam dormir.

O Congresso, os lugares percorridos após, os personagens envolvidos e as peripécias decorrentes ficam para uma próxima inserção.

Esta introdução, que acabou ficando um pouco longa, serviu como ilustração do meu despertar e iniciação na arte de viajar e do desejo e prazer que essa rica atividade proporciona.



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