A você meu amigo
Do sol e do mar
Do ar e do cata-vento
Do cabelo carapinho
Da barba natural
Em desalinho
Do peito rasgado
Do regime forcado
Do amor em descaminho
Da coragem inebriada
Da molecagem safada
Do brilho e das mulheres
Da pesca do marlim
Do ótimo cebiche
Do fetiche ao reunir
Tolerante ao servir
Avesso ao quadrado
Do saber invertebrado
Da politica consciente
Da pesquisa consequente
Da arte não subserviente
Na orla e no continente
A você, meu amigo
Que morreste na praia
Toco flauta e alaúde
Em honra ao talude
Que guardou teu ataúde
Meu abraço amiúde
UM TALUDE QUE DÓI (1985)
Na ida para a cidade
Vejo um talude abandonado
Que um dia foi gramado.
Isso me dói.
Atrás do talude abandonado
Há um prédio amado
Hoje Centro Cultural
De valor descomunal
Há um ritmo vivo dentro dele
Onde homens dão sentido
Ao seu belo espaço arquitetural
Atrás do talude ex-gramado
Há um prédio animado
Os homens lá dentro trabalham
Na escrita e na tela
Na pauta e no palco
Eles gostam muito dele
Mas se irritam
Com o prédio inacabado.
Isso me dói
Eurico, que me chamava Caloi.
Os carros passam
Indiferentes ao talude
Que guardou seu ataúde.
O talude abandonado
Poderia ser torre residencial
O Chamie não deixou.
E você não quis
Pois Cultura é raiz.
Do verde que cobriria
O talude sesquipedal.
Na volta da cidade
Vejo um talude gelado
Na frente de um prédio adorado,
Como o nosso país
Vejo um prédio abandonado
Como a nossa raiz
A nossa cultura.
Isso me dói
Eurico que me chamava Caloi,
O ultimo não dobrável.
A você, meu amigo
Toco flauta e alaúde
Em honra ao talude
Que guardou teu ataúde
E que me dói,
Profundamente.
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