Easy Rider
“Um homem precisa viajar por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou tv. Precisa viajar por si, com seus olhos, com seus pés para entender o que é seu, para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor” Amyr Klink.
Viajar é uma das experiências humanas mais incríveis. Seja um simples fim de semana na praia ou no sitio, ou mais prolongada, nacional ou internacional, sempre vale a pena quebrar a rotina, conhecer outras culturas, viver novas experiências.
Considero que viajar é um bem inalienável, uma saudável ocupação, um refinado prazer para o corpo e para o espírito. É como coçar. Quando se começa, não se quer parar. Precisamos viajar como precisamos dos amigos.
Há uma infinidade de razões para viajar. Por necessidade, a trabalho ou numa emergência; para estudar, aprender ou se reciclar; para consumir compulsivamente; por recreação, esporte ou lazer; por curiosidade intelectual ou ainda em busca do autoconhecimento; para usufruir de premio ou conquista; em missão cientifica, por motivos religiosos e tantos outros, até chegar no final, lamentavelmente, a viajar para nunca mais voltar.
Apesar de infância pobre, tive algumas alegres experiências nesse sentido.
Minha primeira viagem, que tenho lembrança, creio que foi para Aparecida do Norte, ainda pequeno levado pela minha mãe, que sempre foi “rueira”, em que fomos pagar uma promessa caso eu “vingasse”. Ela acenderia uma vela do meu tamanho na Basílica da padroeira do Brasil, como era usual naqueles tempos.
Segundo ela, que já se viajou pro além aos 73 anos, tive um tratamento pré-natal difícil durante toda a sua gravidez, para me manter sem risco. Isso porque meu primeiro irmão, que se chamaria Edmur, não resistiu os primeiros dias de luz, pois meu pai teve uma doença que transmitiu a ele e comprometeu sua vida. Devo ter dado tanto trabalho, desde esses primeiros momentos, que a mulher que cuidou de todo o pré-natal e que participou do parto, a parteira Brígida, virou minha madrinha.
Depois me lembro de ter ido a Santos, ver o mar pela primeira vez, também levado pela minha mãe e uma amiga, no tempo que era uma longa viagem, desde o Brás onde morávamos. Já tinha meus 10 anos. Passamos o dia na praia do Gonzaga, alugando aquelas cabaninhas de madeira que existia antigamente para guardar e trocar as roupas dos banhistas de um dia.
Também, ainda na infância, me lembro que ia de trem para Araraquara, no interior de S.Paulo, terra dos meus avós maternos; Ia com meu primo Adilson, nas férias de fim de ano. Era uma verdadeira epopéia cheia de gente, tralhas e bagagens. Era uma alegria geral.
A começar pela imensidão da bela Estação da Luz, e do medo de se perder, pela magia da ferrovia, pelos belos trens da Cia. Paulista, do apito da partida, e já no interior do vagão de 2ª classe, do vendedor de sanduíches, de revistas que passavam, do banheiro, do carro restaurante, do fio passando do lado de fora da janela, subindo e descendo , das pessoas vendendo coisas nas estações que passavam.
Jundiaí, Campinas – baldeação para a Mogiana, Americana, Itirapina, Rio Claro, São Carlos, antes de chegar a Araraquara, a morada do Sol e das perfumadas arvores pela cidade, depois de umas 7 horas de viagem de pura alegria e contentamento.
As férias em Araraquara merecem um capitulo a parte para contar da imensa casa do meu avo Pascoal,vindo da Calábria, na Avenida 7 de Setembro, que tinha mangueiras, jabuticabeiras, cabritos, galinhas, parreira de uva e sua carroça com a égua branca, que nos levava à caixa d’água e das suas pantagruélicas refeições nas festas de Natal e Ano Novo; do footing no centro da cidade, da piscina da Ferroviária de esportes, do calor permanente, dos meus tios e primos. Voltaremos a ela.
Talvez venha desses tempos minha permanente vontade de viajar, de sair pelo mundo.
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